terça-feira, 10 de agosto de 2021

Mário de Carvalho: O Percurso pra Cá

Não sei se Mário de Carvalho escreveu estes contos sequencialmente, isto é, se a organização das histórias no livro corresponde à sequência da sua produção. Mas se o fez, ao chegar a este O Percurso pra Cá já estava com as ideias um tanto ou quanto esgotadas e o humor um pouco murcho.

Não que o conto seja mau, atenção. Não é: está bem escrito e tem alguma piada. Mas quando o comparamos com os contos anteriores este sai claramente a perder, até mesmo na graça com que o autor caracteriza os habitantes do Beco das Sardinheiras. O bordão do Manuel Germano (quem leu compreenderá) é metido na história um tanto ou quanto forçadamente, e o elemento fantástico que irrompe pelo quotidiano é coisa já muito vista: uma espécie de portal que vai desaguar num marco de correio. Dentro do marco de correio.

E é basicamente a essa ideia que se resume toda a história. O portal, aparentemente, liga o Cais do Sodré ao Beco das Sardinheiras, só nesse sentido, e volta e meia lá vem uma pessoa ou um grupo desaguar no marco de correio. Mas depois deixa de acontecer porque a entrada está num buraco que a câmara depressa trata de tapar. Fim. Nada disto sequer se aproxima da elaboração e da piada dos outros contos, o que, para quem vem de os ler e está à espera de coisa comparável, é algo descoroçoante. Mas não é mau, o conto. É... fracote.

Contos anteriores deste livro:

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