Muitos escritores têm temas mais ou menos obsessivos, e, em particular quando o seu género de eleição é o conto, é frequente escreverem histórias atrás de histórias que pouco mais são que variações da mesma ideia e do mesmo tema. Jorge Luis Borges é assim; são célebres os seus labirintos, os seus pseudofactuais, etc. E por isso, julgo que não será nenhuma surpresa se vos disser que este Undr também se integra num tema comum a outras histórias. Na verdade, pouco mais é que uma variação de O Espelho e a Máscara.
Ou seja, o tema das duas histórias é o mesmo: a procura da mais absoluta pureza literária (e, sim, metafísica), de uma só palavra que englobe em si o significado do Todo. E nisso ganha um ambiente fantástico, apesar de nada de explícito (alguma magia, algum súbito surrealismo que ponha em causa a substância da realidade) aproximar o conto do género. Pelo contrário o lado explícito das coisas dificilmente podia ser mais solidamente ancorado à realidade histórica, pois Borges decide recorrer a um dos seus truques habituais, apresentando o conto como transcrição de um texto (inexistente, naturalmente) do século XI. E este é apresentado como uma crónica de viagens e aventuras, como tantas houve na época e em séculos posteriores.
É um bom conto, este, mas pareceu-me que O Espelho e a Máscara é um pouco melhor, tanto como conto propriamente dito, quanto como forma de explanação das ideias que Borges procura expressar em ambos.
Contos anteriores deste livro:
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