A Noite das Mercês é daqueles contos que, dependendo da forma como são encarados, podem colocar-se dentro ou fora da literatura fantástica. Razoavelmente curto, é mesmo assim um conto construído em camadas narrativas sobrepostas como uma cebola literária. Um homem, já velho, conta uma história que se teria passado consigo em jovem, a qual inclui uma segunda história que lhe teria sido contada por uma misteriosa mulher com sangue índio. Ambas são histórias de violência e banditismo, num ambiente que é quase de faroeste (mas um faroeste argentino, naturalmente), e é aqui que pode entrar o fantástico, pois Jorge Luis Borges escreve de tal forma que as duas histórias como que se confundem e misturam, mas sem que realmente o façam.
Pelo que ficou dito acima já se entrevê que este é um conto muito bem concretizado, que joga com o conceito de individualidade (e até certo ponto com a memória) para criar um efeito de irrealidade pelo menos potencial. Um conto escrito com a precisão de um mecanismo de relojoaria. Um conto à Borges.
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