quinta-feira, 18 de abril de 2019

Lido: O Mundo Apagado

A um conto sobre maluquice segue-se logo outro. Aqui é um autor português quem nos leva aos labirintos da mente de um incel, palavra de origem inglesa que nasceu como acrónimo de "celibatário involuntário": Vasco Luís Curado.

Este O Mundo Apagado (bibliografia) é basicamente um estudo de personagem, e com poucos argumentos para justificar a sua inclusão nos géneros fantásticos. Existe uma impressão subjetiva de apagamento do mundo por parte de um homem abandonado (e gozado) pela ex-namorada, associada a um mergulho progressivo numa espécie de loucura de autoisolamento, mas não existe realmente uma sugestão de que essas alterações na estrutura subjetiva do mundo exterior possam ter algum paralelo na realidade, ou seja, que possam não se limitar a alterações presentes apenas na cabeça do protagonista, as quais ainda por cima se autoderrotam na decisão de contar a história em primeira pessoa: se o homem apaga o mundo, está a contar a história a quem?

Haverá aqui, suponho, um pouco de terror psicológico, mas é visível que o objetivo do conto não é causar alguma espécie de medo ou de qualquer outra reação visceral. É apenas explorar um delírio e levá-lo às suas consequências. E fá-lo bem, com a ressalva da primeira pessoa de que falo acima, e apesar de ficarmos a saber no último parágrafo que ele tem momentos de lucidez, o que diminui essa ressalva; o conto está bem escrito, a narração progride de uma forma previsível mas segura. No fundo é o que importa, não é?

Contos anteriores desta publicação:

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