O principal problema de ler muitas histórias tradicionais em sequência é o facto de elas terem com grande frequência elementos em comum umas com as outras, repetindo personagens-tipo, enredos e dilemas. Essa repetição, como todas as outras, ao fim de algum tempo leva ao aborrecimento. E eu, depois de um livro de contos tradicionais portugueses e deste livro dos Irmãos Grimm quase completo (as opiniões vão mais atrasadas, mas à leitura faltam seis contos para o fim), já estou a precisar de uma pausa.
Foi em parte por isso, imagino, que torci tanto o nariz a este Pássaro-Enjeitado. É um conto bastante curto, não para o que é hábito nas histórias tradicionais em geral (as portuguesas recolhidas pelo Adolfo Coelho costumam ser mais curtas) mas para o que costuma sair das reformulações dos Grimm. Nele, vamos mais uma vez encontrar uma megera que quer assassinar uma criança e nele, mais uma vez, é outra criança, aqui uma irmã adotiva, que salva a primeira da morte. De três mortes, mais precisamente. Ou não fosse o número três omnipresente nestas histórias.
Como nota de originalidade, a megera aqui não é a segunda (ou terceira, ou quarta) mulher do pai da criança que corre perigo. É apenas a cozinheira de um caçador, embora pareça desempenhar o papel de mulher. De resto, a criança em perigo nem sequer é filha do caçador; foi por ele encontrada no topo de uma árvore, levada para lá por uma águia que a arrancou aos braços da verdadeira mãe (e sugere-se que esta estava simplesmente debaixo da árvore, não se percebendo como foi que deixou o caçador ficar-lhe com o filho).
Sim, o argumento tem buracos, o que se está longe de ser inaudito em histórias tradicionais (que muitas vezes soam como versões abreviadas de histórias mais ou menos mitológicas e bastante mais extensas), não é muito comum nestas histórias retrabalhadas pelos Grimm. E isso também contribuiu para o pouco agrado com que eu li este conto, mas não creio que o principal motivo seja esse. Certo é que o agrado foi escasso.
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