Não podia continuar, não é? Não podia gostar mais dos contos do José Viale Moutinho a cada um que lia. Alguma vez teria de gostar menos de um conto novo do que do anterior. Calhou ser com este Aquela Cativa que me Tem Cativo?, e sim, o ponto de interrogação faz parte do título, não é uma dúvida que eu tenha.
Despacho a abrir uma coisa óbvia para qualquer pessoa que leia a primeira página deste conto: está muitíssimo bem escrito, numa prosa poética de grande qualidade, que evita cair nas lagoas de púrpura em que este tipo de texto arrisca sempre mergulhar (não perceberam? Procurem na net por "purple prose"). Não é, portanto, por aí que chega o meu menor agrado. Ou por outra, não é sobretudo por aí, pois não costumo ser grande fã de prosas poéticas, ainda que haja algumas exceções de obras escritas dessa forma que me agradam muito.
Nem será propriamente pela história, ainda que também esta não seja das que mais tende a agradar-me: uma história de amor e desejo, contada (muito bem, sublinhe-se) de um jeito sinuoso, na qual o fantástico se insinua, forte e onírico, com mais que um pouco de fantasmagoria a trazer-lhe aquilo que para mim, normalmente, é um interesse acrescido.
Será talvez pela forma como estas partes se conjugam. Há algo de comum entre a literatura e a gastronomia. Por vezes acontece que a conjugação de partes parcialmente desagradáveis para o leitor xis serve para esconder o que nelas existe de desagradável, formando um todo bastante mais agradável do que as partes poderiam fazer supor. Mas por vezes sucede o contrário: a junção das partes como que intensifica aquilo que não agrada. Para mim, esta história de José Viale Moutinho é das que intensificam o que não me agrada. Não que me tenha desagradado, mas agradou-me significativamente menos do que seria previsível sendo cada parte o que é.
Seja como for, o conto é bastante bom. No fundo, mais do que as impressões subjetivas de um Fulano leitor, é isso o que conta.
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