E para terminar (mais) um poema em prosa, no qual Mia Couto fala sobre um refugiado de guerra para falar sobre a guerra. O Gentipó, Suas Gentis Poeiras é mais um daqueles contos que tanto podem ser inteiramente ficcionais como podem ter em si toda aquela realidade onde as crónicas radicam, e narra os brandos desacordos entre o narrador, o próprio Couto, e o Gentipó, agricultor, aldeão, que a guerra civil moçambicana empurrara para a cidade.
Este traz consigo toda a superstição dos antigos e as saudades da vida de outrora, e julga que o perigo que o expulsara da sua terra se resolve com o recurso aos bruxedos dos feiticeiros. Aquele tenta convencê-lo de que a realidade não é assim tão simples e se regressar vai voltar a mergulhar no mesmíssimo perigo de que fugira. Sem sucesso. E a história termina assim, sem que se fique a saber se o homem encontraria a paz ou seria simplesmente dilacerado pela guerra.
E é essa incerteza que Mia Couto quer transmitir. Não a incerteza das personagens, propriamente, mas a sua própria incerteza face ao futuro de Moçambique e de uma guerra civil que nessa época se arrastava sem fim à vista. Fá-lo escrevendo quase um poema. Ou mais um conto muito bom, embora eu tenha voltado a sentir a falta daquilo que a meu ver melhor combina com a prosa do autor: o fantástico.
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