A primeira coisa em que eu pensei quando li este título foi, claro na outra A Guerra do Fogo, o filme (e o livro) sobre o conflito pela posse do fogo nos tempos remotos da pré-história humana. Mas este conto de Nuno Almeida nada tem a ver com isso. O seu tema não é pré-histórico, é histórico, e traz consigo mais realidade do que o romance de Rosny aîné (e o filme de Annaud).
Sim, que conto é uma fantasia histórica mas está solidamente ancorado em acontecimentos reais. O tema é o surgimento da revolta lusitana contra as hostes romanas, liderada por Viriato, na sequência de um ato traiçoeiro de um pretor romano que levou a um massacre de guerreiros lusitanos durante aquilo que supostamente seria uma celebração de paz entre os invasores e as tribos locais. Almeida reveste-o de contornos místicos, com a intervenção de um deus em forma de lobo que salva a vida de Viriato depois de este demonstrar o seu valor e lhe fornece as armas com que irá combater os romanos.
Bem sabemos, claro, que a figura de Viriato é uma lenda que pode não ter tido sustentação na realidade (i.e., que pode nunca ter havido um guerreiro chamado Viriato, sendo este o resultado do amalgamento de vários líderes de uma série de tribos, ou que no mínimo o Viriato lendário não corresponde ao Viriato real, pois este nem seria lusitano mas oriundo da moderna Andaluzia, um território que na Ibéria pré-romana corresponderia à Turdetânia), mas sabê-lo em nada afeta a apreciação da história, cujo caráter lendário, pelo contrário, se adequa bem à figura do herói da resistência.
E o conto está bem escrito, o que também ajuda. É certo que tem umas gralhas, mas é um texto escorreito onde Almeida demonstra um bom domínio do português e dos ritmos narrativos. As suas cenas de ação, por exemplo, coisa que é frequente sair coxa aos autores portugueses, são francamente boas, e a utilização de acontecimentos históricos bem documentados como pano de fundo ajuda sobremaneira a reforçar a verosimilhança.
Este é um bom conto.
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