sexta-feira, 3 de junho de 2022

José Viale Moutinho: Cenas da Vida de um Minotauro

Sou de opinião, reforçada ao longo dos anos de forma empírica por intermédio de numerosas opiniões minhas e de outros, de que um dos fatores mais importantes para a apreciação final de uma coletânea ou antologia é a impressão que deixa o conto que a encerra, logo seguida pela impressão equivalente do conto que a abre. Isto só se aplica, evidentemente, aos leitores que tendem a ler conjuntos de contos sequencialmente mas, embora haja quem prefira saltitar, o partido sequencial é a maioria. Por esse motivo, essa opinião vem associada a outra: a de que a organização dos contos tem importância e tanto a abertura como o encerramento é conveniente que se faça com histórias fortes.

Ora Cenas da Vida de um Minotauro é o título do conto que encerra este livro de José Viale Moutinho. E é de todos os oito contos que o compõem aquele de que menos gostei.

Calculo que Moutinho seja de opinião oposta, não só por ter colocado o conto no fim, como por lhe ter reaproveitado o título para intitular o livro inteiro. Mas pela parte que me toca, esta história é perfeita para ficar esquecida algures no miolo, uma daquelas histórias menos interessantes que se leem e se esquecem logo que a história seguinte chega com mais atrativos para o leitor. Escrita em forma de narração oral, como um longo monólogo do narrador anotado pelo ouvinte que quase se limita a escrevê-lo, conta a história de uma família de gente outrora ilustre e rica, parte daquilo a que costuma chamar-se as "forças vivas" das regiões agrícolas do interior português, e da quinta em ruínas que foi em tempos sua casa.

O conto conta com a já habitual sinuosidade cronológica dos escritos de Moutinho, nos quais passado e presente se entrecruzam, e está tão bem escrito como os outros, mas o desinteresse do tema é tal que tudo se torna um bocejo. Não, não me interessa minimamente a história dos ilustres antepassados do senhor Montenegro, ou Montefeltro, ou como raio se chama a família. E não, não me parece que este conto tenha sido bem escolhido para fechar o livro, muito pelo contrário. É fraco. Pelo menos em comparação com a maioria dos outros, tão bons como ele literariamente mas muito mais interessantes.

Contos anteriores deste livro:

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