Já houve mais, bastante mais. Foi até moda durante um certo período, apresentado como sinal de mente aberta, livre das teias de aranha com que o moralismo puritano católico (ou protestante, noutras geografias) tentava prender o desejo humano. Mas mesmo já tendo havido mais, mesmo tendo já passado de moda, ainda continua a haver um certo tipo de homem que romantiza a prostituição. A feminina, obviamente; eles são os clientes, elas as profissionais, e não há confusões sobre de que lado está o dinheiro e quem dá as ordens. E ajuizando por este conto, Victor Rui Dores parece ser um desses homens.
Pois é precisamente isso que este Deleites e Outras Delícias é: um conto em que a prostituição é romantizada, pintada em tons de cor-de-rosa. A prostituta serve para dar prazer ao macho e com isso ter prazer, mesmo sem ter vontade própria e só fazendo o que ele manda. Porque ele é que manda, por entre frases pseudopoéticas de gosto duvidoso com as quais se procura fazer corresponder aquela transação comercial em que um tipo paga para descarregar os tomates (e se acham que esta linguagem é demasiado crassa ainda não perceberam que a realidade também o é) com um encontro entre dois amantes que trocam prazer em pé de igualdade. Dores parece querer convencer quem o lê de que nesta queca paga alguém faz amor. Pela parte que me toca, não consegue.
Se escreve bem ou não? Que interessa? Há contos que a literatura não salva, e este é um deles. Bola preta.
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