quinta-feira, 7 de julho de 2022

Agustina Bessa-Luís: Casamento e Fuga

Há na literatura, e na verdade noutras formas de arte também, uma certa obsessão com o passado, não sei ao certo se por interesse dos autores, se por vontade do público, se por uma mistura das duas coisas. Seja como for, o registo histórico (ou pseudo histórico... como na fantasia, por exemplo) é frequente e a presença constante nas livrarias de literatura com um ou ambos os pés no passado mostra que o público existe. Mas eu não faço parte dele. Pelo menos não do seu quinhão mais dedicado.

O que quero dizer com isto é que não renego a literatura de base história, e por vezes gosto de a ler, mas de uma forma geral prefiro outra. Tal como entre uma história que gira em torno de casamentos e relações amorosas e outra que se debruce sobre coisas menos telenoveleiras, geralmente prefiro esta última. E tudo isto significa que este Casamento e Fuga de Agustina Bessa-Luís saiu da linha de partida logo em desvantagem. Porque é, precisamente, uma história que gira em torno de casamentos (ou não) e relações amorosas (ou nem tanto) que se passa no princípio do século XX.

Não é surpresa para ninguém que a autora escreve bem, pelo que nem vale a pena mencionar o facto. Também não é surpresa para ninguém que tem na condição feminina, um dos seus principais temas, ou pelo menos a sociedade patriarcal e os seus efeitos. Por conseguinte não será surpresa que este seja um bom conto que descreve, com ironia e verve, as múltiplas relações de um namorador quase profissional no Porto dos anos 20. E sim, é um bom conto. Mas aborreceu-me imenso, porque o meu desinteresse pelo tema é total e a literatura não o compensa. Quero lá saber da multiplicidade de namoradas simultâneas de um galãzeco tripeiro de há 100 anos.

E sim, não me passou despercebido que Agustina traça ao mesmo tempo um retrato da burguesia portuense da época, dos seus valores e das suas prioridades. E sim, sei que essa é a raiz de muito conservadorismo contemporâneo. Mas o que eu sinto por esse conservadorismo não é curiosidade, não é interesse: é repulsa. Portanto não, não gostei deste conto.

Mas é um bom conto, lá isso...

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