Se não gostei do primeiro conto deste livro de Virgílio Várzea, deste segundo ainda gostei menos, embora por motivos algo diferentes. O Velho Sumares é um panegírico ao herói, ao velho lobo do mar que, com valentia e arrojo, enfrenta não só os elementos mas a perseguição denodada de um navio de guerra inglês.
Detalhe: o velho Sumares é capitão de um navio negreiro. A carga que transporta de África para o Brasil, ou tenta transportar, são escravos.
Não fora esse detalhe, o conto nem seria mau. Não há aqui a tragédia de faca e alguidar do primeiro conto, não se encontra tão marcado o exagero de adjetivação, e até as vírgulas, apesar de continuarem demasiado abundantes, estão razoavelmente controladas. E a história propriamente dita também tem um certo interesse enquanto narração de aventuras marítimas, desde que se fechem os olhos à carga que o navio transporta.
Coisa que Várzea tenta fazer, de resto. A história centra-se nos feitos de marear do capitão e nas reações da tripulação. A carga, essa, podiam ser sacos de batatas em vez de seres humanos pela relevância que tem na história. É isso o que mais incomoda. Pior que elevar um traficante de escravos a herói é o completo desprezo mostrado pelo escritor pela condição dos escravos que o navio transporta. São uma inexistência. Uma irrelevância. Não-gente.
Não. Não gostei mesmo nada disto.
Conto anterior deste livro:
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