segunda-feira, 11 de julho de 2022

Miguel Carqueija: Não É Humano

É uma conclusão provisória, o que implica que não é propriamente uma conclusão e sim uma hipótese, ou talvez apenas uma conjetura (são quase sinónimos, eu sei, mas entendo a conjetura como uma hipótese fraca), mas parece-me que Miguel Carqueija, que é quase sempre francamente mau quando tenta escrever FC ou coisas aparentadas, até se sai razoavelmente bem no horror.

Apoiam a hipótese o conto anterior e este Não é Humano, um conto lovecraftiano que pertence à sua série de Pedra Torta. E quando falo de lovecraftiano não me refiro a alusões vagas e semelhanças temático-estilísticas com as histórias de Lovecraft. Não. Este conto é tão lovecraftiano que o seu fulcro é o Necronomicon, mesmo que no volume 2 da obra maldita.

Com base nisso, Carqueija cria uma história interessante sobre uma raça de dinossauros sapientes (algo que outro autor brasileiro, Gerson Lodi-Ribeiro, também já explorou há muito tempo) que se esconde da humanidade, aguardando o momento de um confronto final com Cthulhu, o grande antigo que os teria quase levado à extinção há milhões de anos. Mas para isso têm de conservar o segredo sobre a existência dos Grandes Antigos, o que implica a destruição completa do Necronomicon e de outras obras do género.

Este não será um conto particularmente bom, mas é bastante razoável, muito melhor que as primeiras histórias deste livro, especialmente se ignorarmos a falha lógica básica deste enredo (e de muitos enredos semelhantes, que isto não é coisa só de Carqueija): se temos um grupo de pessoas ou, como neste caso, de não-pessoas, apostado em guardar um segredo a todo o custo, como é que esse grupo permite que as ficções sobre esse segredo venham a público?

Contos anteriores deste livro:

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