Já o disse algumas vezes, mas repito agora: um dos problemas de ler contos tradicionais é o caráter repetitivo que muitos deles tomam, pois as ideias e elementos de enredo que trazem tendem muitas vezes a ser reutilizados, readaptados, reapresentados em múltiplas variações, como cartas de jogar baralhadas e voltadas a dar. As mãos podem ser diferentes, mas um sete de paus é um sete de paus, e só há um número limitado de jogadas que se podem fazer com ele.
Ora, personagens destemidas já por aqui apareceram bastantes, e protagonistas que partem pelo mundo em busca de aventuras ainda mais. E é precisamente isso o que faz O Príncipe que não Tem Medo de Nada, conto em que os Irmãos Grimm até parecem não ter intervindo muito, à parte, provavelmente, retocá-lo para o melhorar enquanto objeto literário.
Porque não tem medo de nada, o príncipe parte mundo fora, ganha a lealdade de um leão, mete-se em sarilhos com gigantes e, depois de muitos perigos e muito sofrimento, anula o feitiço a que estava sujeita uma donzela, evidentemente bela, e acaba casado com ela. Final feliz, que nestas histórias não há casamentos que não o sejam. Final feliz que nestas histórias é obrigatório.
A história deste Hércules principesco e teutónico até é uma boa história, pois as aventuras têm a sua graça. Mas a verdade é que existe sabedoria na edição destes contos em volumes pequenos com um só conto ou um punhado deles — quando vêm todos juntos tudo o que é repetitivo torna-se particularmente evidente e desgasta o desfrute da leitura. E este é o conto nº 121.
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