Tão irónico como o conto anterior, mas com bastante menos daquela piada imediata que dá sorriso aberto e por vezes até gargalhada, este segundo conto de Manuel Machado é sobre a artificialidade na política. Como o título de Comboio Presidencial indica, é sobre um presidente e um comboio, mas desengane-se quem achar que se trata de um comboio presidencial propriamente dito e que o presidente o é de alguma república. Não. O presidente é apenas de um partido e o comboio só é presidencial porque o presidente nele viajou... junto com carradas e carradas e povo.
Ora, o problema é que tinha à espera uma manifestação espontânea de simpatizantes, devidamente organizada mas sem levar em linha de conta que nenhum presidente aguenta tanto povo durante tanto tempo, pelo que o conto é uma página inteira de explicações e solicitações para que a manifestação espontânea de apoio seja adiada para outro momento e lugar, a fim de que o presidente e a digníssima esposa tenham tempo para descansar do sufocante contacto com o povaréu. E quem percebe ironia já a percebeu, e quem não percebe não perceberá nem lendo o conto.
Gostei. Divertiu-me menos do que Reciprocidade Amável, mas gostei.
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