Contos tradicionais alemães, recolhidos ainda no início do século XIX. E de repente aparece um título como A Noiva Branca e a Noiva Preta. Qual é a pergunta que de imediato vos assalta a mente? A mim é: "Racismo?" Não é nada contra os Irmãos Grimm. Mas a fruta da época é a fruta da época, e uma época muito racista (se há racismo hoje, e há, e muito, há 200 anos havia muito mais) produz ou promove obras literárias muito racistas. E este conto é, de facto, extremamente racista.
Tem algumas semelhanças com a história da Gata Borralheira, mas com racismo à mistura. É uma história sobre uma mãe, sua filha e sua enteada, que um dia encontram no campo deus vestido de pobre. A mãe e a filha tratam-no mal, a enteada trata-o bem. Como consequência, deus transforma esta em branca bela e aquelas em pretas feias. Ou seja: a branca é bela e boazinha; as pretas são feias e más. Mais racista que isto é difícil. Ah, sim, e a mãe ainda por cima é bruxa.
Depois o resto da história lá segue como tantas outras histórias de encantar, ainda que um tanto ou quanto incongruente. A enteada (boa, branca e bela) tem um irmão que é pintor mas trabalha como cocheiro do rei. O irmão pinta um retrato seu, que o rei, viúvo, acaba por ver, apaixonando-se de imediato, depois há uma série de feitiços e enganos que transformam a enteada em pata e levam as feias, pretas e más a substituí-la na afeição real, e no fim, com mais reviravoltas da magia, lá se recompensam os bons (e brancos) e se punem os maus (e pretos) como era inevitável.
A Gata Borralheira é muito melhor do que este conto. Não só pelo racismo, mas também.
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