sexta-feira, 5 de junho de 2020

Irmãos Grimm: Os Doze Caçadores

Muito ceguetas são as personagens das histórias tradicionais, caramba! Isso, ou cada criatura que se disfarça é um mestre do disfarce, apagando por completo a sua natureza anterior para adotar sem falhas a que pretende assumir. Magia, dirão? Às vezes, sim, é explícito que se trata de magia, mas muitas vezes não há nenhuma magia claramente envolvida. São simplesmente disfarces, que, de resto, por vezes acabam descobertos — depois de enganarem durante muito tempo, claro — o que em princípio não aconteceria se se tratasse mesmo de magia.

Pois é o que acontece neste Os Doze Caçadores, sim senhores, que para variar parece ser só uma história, não alterada pelos Irmãos Grimm com o acrescento de elementos vindos de outras (ainda que seja provável que lhe tenham dado uns retoques mais literários).

A história anda algures entre o ternurento e uma variante branda de assédio. Um príncipe e uma princesa curtiam-se bué, para não usar o "amavam-se muito" dos contos de fadas, mas eis que o príncipe é chamado ao castelo onde o pai está moribundo. E o velho bate a bota, não sem antes ter feito o filho prometer que se casaria. Com outra, claro. Vai daí, como o seu querido não voltava, a namorada abandonada decide ir ver o que se passava acompanhada por mais onze donzelas tão iguais a ela quanto possível e todas disfarçadas de caçadores. Sim, caçadores, masculino. E as donzelas/caçadores travam amizade com o príncipe, que obviamente não suspeita de nada, e por lá andam todas em grande paródia a matar na bicharada, até que a dado ponto tudo se revela e ele é forçado a uma escolha: obedecer ao pai ou seguir o coração?

Segue o coração, ou não estivéssemos em território de contos de fadas. Mas quem não queria um rei assim era eu. Não tanto por seguir o coração, que até pode ser útil às vezes, mas por não conseguir ver que os doze tipos com quem anda regularmente na caça são na realidade doze donzelas.

Contos anteriores deste livro:

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