É engraçado como a fantasia está cheia de histórias sobre ascensões mais ou menos mágicas a mundos fantásticos aéreos. Entre feijoeiros mágicos e mitologias várias, passando por asas de cera e uma interminável variedade de formas mais ou menos imaginativas, parece que os inventores de histórias sempre sentiram um apreciável fascínio por essa fantasia. Consequência de sermos uma espécie fisiologicamente presa ao chão, possivelmente, com uma atávica associação psicológica entre a ascensão (às árvores, originalmente) e a segurança. Até eu cometi uma historinha dessas aqui há uns anos. Esta é a versão do Mia Couto.
O que, de resto, já se vê desde o título. A Ascensão de João Bate-Certo é daqueles títulos descritivos que representam fielmente o conteúdo da história. Mas claro que nenhuma história se pode realmente resumir a um título sem deixar muito de fora. Esta é sobre a ascensão de uma personagem chamada João Bate-Certo, sim, mas também é sobre a sua mãe angustiada por ver o filho enveredar por caminhos que não compreende, sobre a irrisão daquelas pessoas terra-a-terra que estão sempre prontas a criticar e a troçar de quem decide seguir por vias invulgares, e em última análise sobre a morte. João ascende aos céus através de uma escada que vai construindo de caminho, e arranja sempre maneira de continuar a construí-la por mais que os outros lhe tentem frustrar os intentos. Sim, a história também é sobre perseverança.
E boa, é? Sim, é. Bastante.
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