sábado, 9 de dezembro de 2017

Lido: A Bôlha e a Cratera

Na ficção científica de um período do século XX que vai mais ou menos dos anos 50 aos 70, a Lua ocupou lugar de destaque, alimentando-se de, e alimentando, o interesse do público pelo nosso satélite, tendo depois sido posta um pouco de parte tal como aconteceu na realidade da exploração espacial. Isto sem prejuízo das obras anteriores e posteriores lá ambientadas, naturalmente, que também existiram e continuam a existir. Foram os Estados Unidos a liderar essa ascensão e queda, como seria de se esperar dado ser lá o epicentro da FC mundial, mas isso é fenómeno que não se resumiu aos EUA, tendo também tido reflexos nos países lusófonos.

A Bôlha e a Cratera (bibliografia), de Rubens Teixeira Scavone, conto que já aparece datado pela grafia usada logo no título, é um desses reflexos. Ambientado numa base lunar estereotipicamente situada numa cratera recoberta por cuma cúpula (a bolha do título) gira não em volta disso, mas de um sorteio e de um crime. Contada na primeira pessoa pelo jornalista da base, a história relata com (excessiva) abundância de apartes muito descritivos e cristãos o que acontece quando um jovem que perdeu sucessivos sorteios para ir de visita à Terra decide que dessa vez não se deixará ficar na Lua, dê lá por onde der. E a investigação acaba por revelar outros segredos, igualmente trágicos.

Podia ser um conto muito interessante, este. Scavone escreve bem e a história que cria tem abundância de mistério e reviravoltas. O problema são os apartes, as derivações, que quebram o ritmo narrativo, em parte porque nem são bem introduzidos no fluir da história, nem ficam bem resolvidos, na sua maioria. As consequências são uma história que poderia ser emocionante mas se torna aborrecida e um texto que poderia ser de grande qualidade mas perde parte dela por causa da inabilidade demonstrada pelo autor em segurar a narração. É pena.

Conto anterior deste livro:

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