Uma das técnicas literárias que pode produzir resultados mais interessantes na ficção curta e ultracurta é o jogo com as expetativas do leitor. São muitas as histórias em que tudo é escrito como se personagens, situações ou locais fossem uns e depois a dado ponto vem-se a perceber que afinal não, que são outros, e é razoavelmente frequente que essas histórias sejam no mínimo interessantes. No entanto, esta técnica é tanto mais eficaz quanto maior for a naturalidade com que tudo acontece, e em contos muito curtos também convém que a reviravolta esteja muito perto do fim.
E é precisamente nisto que o conto Leitura Entre Lençóis, de João Rogaciano, se mostra insuficiente. A ideia é engraçada: começamos por ser apresentados a alguém que lê na cama um livro de terror sobre vampiros, e a reviravolta aparece quando descobrimos quem e o que é esse alguém. O problema é o conto prolongar-se demasiado depois desse momento, como se Rogaciano quisesse assegurar-se, muito para lá do necessário, de que o leitor percebe a ideia. Há três parágrafos a mais. Não parece muito mas, quando o conto só tem 13, é.
Ou seja: o conto não é mau, mas o final é demasiado fraco para permitir que seja bom.
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