Nesta secção de Reminiscências, há textos de oito autores. Seis desses autores são homens, duas são mulheres. Por isso, não deixa de ser curioso que ambas as autoras presentes tenham decidido enveredar ora pela relação sentimental/sexual explícita entre as suas personagens e o Lambshead, no caso de Rachel Pollack, ora por uma sugestão implícita de tal relação, no caso de K. J. Bishop (bibliografia), ao passo que nenhum dos autores faz sequer uma referência a essa faceta da vida da personagem. Nem um.
Desses oito autores, seis colocam-se no papel de protagonistas da história que contam e dois não o fazem; Bishop é uma destas, pondo uma sua tia nessa condição. É necessário, pois a história que conta tem, além da sugestão da relação íntima, que de resto é veementemente rejeitada por quem conta a história e pela própria protagonista, que não manifesta pelo Lambshead mais que uma violenta repugnância, com uma componente forte de loucura. Esta loucura, embora na verdade nada impedisse, tornaria difícil a Bishop usar a narrativa em primeira pessoa, em especial numa história curta. Foi portanto, parece-me, uma boa decisão.
E não foi a única boa decisão que esta história contém. De facto, este conto é francamente bom, claramente uma das melhores Reminiscências, se não for mesmo um dos melhores contos de todo o livro. As vozes das duas mulheres presentes na história, tia e sobrinha, estão ótimas, e a história propriamente dita, uma bizarra aventura nas selvas da Nova Guiné que gira em volta de uma fantástica doença cujos pacientes libertam borboletas (ou pássaros), é tanto fascinante quanto incrível. E de facto, a Dra. Bishop nega a sua existência fora da mente da tia de uma forma taxativa. Mas o conto está tão bem feito que a dúvida permanece.
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