Não é muito comum eu gostar tanto dos contos em que Mia Couto não introduz nada de fantástico como daqueles em que o faz, mas por vezes acontece. Neste Lágrimas Novas Para as Velhas Damas fala de racismo, provavelmente também de colonialismo ou, por outra, provavelmente de colonialismo institucional mas certamente de colonialismo cultural. E fá-lo muito bem.
As protagonistas são, claro, as "velhas damas" do título. Duas velhas brancas que passam os dias a vasculhar a secção de necrologia do jornal e a ir a funerais, muitas vezes de pessoas que nem conhecem. Mas todas brancas; para elas, quase parece que o grave não é que as pessoas morram, mas que os brancos o façam, pois "já são tão poucos". Um dia, no entanto, cometem um engano qualquer e acabam no funeral de um negro, que obviamente desconhecem por completo. E descobrem que afinal, mesmo velhas como são, também têm lágrimas para lhe dar.
Este é um conto esperançoso sobre o racismo. Um conto que diz que mesmo velhas racistas ainda têm em si a capacidade para se tornarem pessoas melhores, por mais que o ditado diga que burro velho não aprende línguas. E muito bem escrito, claro, como é inevitável em Mia Couto. Muito bom.
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