terça-feira, 1 de setembro de 2020

Isaac Asimov: Há Mais Coisas no Céu e na Terra

Um conto do Azazel com algumas ideias interessantes? Mas que milagre é este? E no entanto aconteceu. O título de Há Mais Coisas no Céu e na Terra (bibliografia), que só por acaso não é seguido por "Horácio, do que sonha a tua vã filosofia", é uma referência óbvia a Shakespeare e indicia uma densidade intelectual que não tem sido muito comum nestas histórias de Isaac Asimov. É certo que o texto não a confirma, mas não é menos certo que tampouco é um texto algo inane, como os contos do Azazel tendem por vezes a ser.

OK, o humor é tosco e despido de subtilezas, um sarcasmo altamente corrosivo que se torna rapidamente esperado e por isso repetitivo. O alvo são os economistas e os políticos, estes porque só querem ouvir o que lhes interessa, aqueles por inventarem as teorias que mais lhes convém para dizerem aos políticos o que eles querem ouvir e assim subirem na vida. Segundo esta história, uns e outros não passam de charlatães, e não duvido que há muita gente que concorda. Mas o conto não se resume a isso, e ainda bem.

O protagonista (além do Azazel e do homem que o controla, claro) é um economista cuja principal (ou única) ambição é tornar-se assessor económico do presidente. O manda-chuva dos economistas, portanto. Só que repara num detalhe: os últimos homens a ocupar o cargo ficaram nele durante períodos cada vez mais curtos, seguindo uma série rigorosamente geométrica, morrendo de seguida. Extrapolando, ele prevê que se por acaso for nomeado economista-chefe terá um ano de vida. Ora, ele ainda é novo, e não lhe apetece morrer tão cedo.

Entra na história o Azazel que, depois de fazer lá os seus malabarismos com a realidade, declara que nenhuma coisa na Terra poderá fazer mal ao senhor economista. E este, feliz e convencido, lá aceita a posição. Problema: com o Azazel as coisas nunca correm bem e esta história não é exceção. Porque em qualquer lei há uma lacuna pronta para ser explorada pelos espertalhões, e neste caso o espertalhão é o próprio universo, o que gera um final mais inesperado do que é costume nestas histórias, e isso aumenta o interesse deste conto.

Este não é um grande conto, longe disso. Mas não tenho dúvidas de que é dos melhores contos desta série.

Contos anteriores deste livro:

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