Num texto que parece ser mais crónica que a maioria destas crónicas que têm sido principalmente contos, Mia Couto regressa aos tempos da guerra colonial, apresentando-se narrador miúdo obcecado por uma mesa de matraquilhos que havia numa tasca frequentada por soldados portugueses, pois nas imediações havia um quartel. À partida eram todos brancos, os matraquilhos, iguais a todos os outros matraquilhos do império. Couto não diz, mas facilmente se imagina o sempiterno Benfica-Sporting das camisolas. Estabelecido o ambiente, arranca a história propriamente dita quando um dos bonecos aparece pintado de preto.
Toda a gente acha graça. Mas depois vão sendo pintados outros até que todos os matraquilhos da mesa se africanizam e os soldados portugueses deixam de rir. Assim se explica o título da história: O Dia em que Fuzilaram o Guarda-Redes da Minha Equipa é o dia em que os matraquilhos sofrem represália violenta pelo crime de terem sido pintados de preto por alguém.
Trata-se, obviamente, de uma história sobre colonialismo, sobre racismo (a tal coisa que há por aí quem insista que não existe em Portugal e, presume-se, nos portugueses), sobre resistência. Sobre o valor dos símbolos, o que de resto é um tema caro a Mia Couto. E bom, sim, e bastante, embora eu sinta sempre falta da fantasia quando ela está ausente dos seus textos.
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