Que me lembre, de Álvaro Guerra só tinha lido até agora um conto fantástico, e tinha gostado. Embora tenha sido um autor com obra razoavelmente extensa (uns 15 livros), não é lembrado com muita frequência quando se fala de literatura portuguesa, e tende a passar-me despercebido, e provavelmente não só a mim. Não sei bem porquê, especialmente agora que voltei a ler um conto dele, e voltei a gostar: parece ser autor bastante interessante.
Este Porta Tenente é bastante diferente do outro conto dele que eu li. Nada tem de fantástico, para começar; trata-se de uma história que faz praticamente um retrato do colonialismo português em África, corporizado no protagonista: um bronco que abre uma exploração agrícola na Guiné e trata os homens e as mulheres que para ele trabalham praticamente como se fossem escravos, com crueldade e violência (e fazendo um nunca-acabar de filhos às mulheres, apesar de ter deixado família em Portugal) até tudo terminar em decadência, loucura e morte.
Com qualquer coisa de Apocalipse Now, apesar de não incluir nenhuma menção à guerra, pois muito do conto tem a ver com a tentativa do homem branco colonial alterar à sua semelhança uma zona dos trópicos, com a sua floresta luxuriante, abundância de água e doenças, acabando por ser alterado, enlouquecido e, em última análise, morto por ela, este é um conto francamente interessante que me espevita a curiosidade por outras coisas do autor.
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