sábado, 14 de dezembro de 2019

Luísa Costa Gomes: O Fosso e o Pêndulo

Quem conhece alguma coisa sobre a obra de Edgar Allan Poe sem dúvida terá lido um dos seus melhores contos, O Poço e o Pêndulo, e não lhe custará nada ver no título desta história de Luísa Costa Gomes uma referência óbvia a esse conto. O Fosso e o Pêndulo até foneticamente é quase igual ao título português do conto de Poe. Mesmo assim, não vá dar-se o caso de alguém ser tão obtuso que não entenda a ligação, a autora ainda inicia o seu conto com uma citação em epígrafe do conto de Poe. Pronto. Assim toda a gente percebe.

Aqui na Lâmpada falei duas vezes sobre o conto de Poe, primeiro aqui, depois aqui, e não foram as únicas vezes que o li; já o tinha lido antes de começar a escrever em blogues e sites. Ou seja, conheço-o razoavelmente bem. Mas mesmo assim custa-me a encontrar a ligação com o conto de Luísa Costa Gomes.

Poe escreve sobre um homem sujeito a tortura psicológica. Costa Gomes escreve sobre um assassino, ou pelo menos sobre um homem que se sonha assassino. Sim, é mal definido. De resto, todo o conto o é, repleto de um onirismo de pesadelo. Talvez seja essa a ligação entre as duas histórias, pois também a de Poe tem muito de pesadelo. Mas é a única que vislumbro.

A personagem de Costa Gomes, batizada como Vândalo, depois de matar (ou de sonhar matar, talvez) uma velha, foge, mete-se num comboio, foge a um polícia que só queria ser prestativo, associa-se a um gigante contrabandista, e por aí fora, não necessariamente por esta ordem, e acaba enterrado vivo, por vontade própria, por um velho gagá que com toda a certeza se vai esquecer de o desenterrar três dias mais tarde como ele lhe pede. Porquê? Sabe-se lá. Tudo no sonho... digo... no conto é gratuito, incoerente, insólito. Analisá-lo literariamente é impossível sem recorrer às técnicas mais ou menos astrológicas da interpretação de sonhos, e eu não sou gajo de astrologias. Está bem escrito, sim, como é costume da autora. Por aí não há queixas. Mas soube-me a pouco.

Contos anteriores deste livro:

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