sábado, 1 de agosto de 2020

Isaac Asimov: Viaja Mais Depressa

Este não é o primeiro nem o segundo conto desta série do Azazel em que Isaac Asimov revela, sob o pretexto de tentar fazer humor, algumas das suas características mais problemáticas. Porque aquilo de que nos rimos revela muito do que somos, e aquilo que usamos para tentar fazer rir os outros mais ainda, começa-me a parecer que é importante ler esta série, mesmo não sendo ela nada de especial, mesmo sendo muito pior do que a dos robôs positrónicos, por exemplo, especialmente se o leitor for daqueles que gostariam de fazer uma ideia mais concreta de quem foi o "Bom Doutor". Neste Viaja Mais Depressa (bibliografia), por exemplo, temos direito mais umas paginazinhas de misoginia quase em estado puro.

A protagonista é uma daquelas louras burras, boazonas e acéfalas, cujo único objetivo na vida é arranjar um gajo rico. E arranja, mas anda muito chateada porque o gajo rico nunca a leva a lado nenhum. Parece que além de rico é forreta, características que provavelmente não serão independentes uma da outra. Mas eis que entra na história o homem que sabe como chamar o Azazel e gostaria de dar umas cambalhotas com a boazona, concebendo para isso um plano astuciosamente baldrickiano: se o Azazel pusesse o marido da boa com bicho-carpinteiro, este haveria de passar a vida de um lado para o outro, deixando a boa livre para as tais cambalhotas. Bem dito, bem feito, e o plano resulta... parcialmente, como acontece sempre que o Azazel está metido no assunto.

A ideia é claramente ter graça, como de resto é o costume nestas histórias, embora aqui pareça ser um pouco mais do que a média. Mas Asimov esqueceu-se (ou talvez não tenha percebido) de que ao recorrer a velhíssimos clichés misóginos estava a penetrar em territórios já muito explorados, o que tende a reduzir significativamente a piada que poderia deles tirar. Especialmente quando não os põe minimamente em causa, como é o caso. E quando a história praticamente se resume a isso, o resultado é o conto ser bastante medíocre.

Contos anteriores deste livro:

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