segunda-feira, 1 de março de 2021

Mia Couto: Um Pilão no Nono Andar

Ah, os vizinhos, essa praga. Gente que não tem a mais pequena consideração pela vida em comunidade forçada, que faz qualquer chinfrim a qualquer hora, perfeitamente borrifando para a necessidade de sono ou de sossego que quem mora perto poderá ter, que lança pela janela todos os tipos de lixo porque aparentemente todo o território em volta da pocilga onde moram é a sua lixeira pessoal, que, como no caso desta história, tem Um Pilão no Nono Andar. Que, que, que...

Mia Couto, aparentemente, conhece-os bem. É o que deduzo deste seu vizinho dos infernos, que resolve instalar no seu apartamento um pilão onde a família faz farinha quando lhe dá na real gana. Tunc, tunc, tunc, horas nisto. Um vizinho, incomodado, tenta explicar-lhe que não está sozinho no Universo, muito menos no prédio, que os outros em redor também têm as suas necessidades, os seus quereres, e os seus não-quereres, e que um desses não-quereres é o tunc, tunc do pilão, pedindo-lhe com toda a calma e boa educação para passar a pilar fora do apartamento, nalgum terreno em volta, na cave, algures. Mas depara-se primeiro com uma floresta de impossibilidades e depois, quando finalmente consegue arranjar uma solução que o do pilão aceita, confronta-se com o espírito abusador típico de tais criaturas.

Não é dos contos de Mia Couto que mais me agradaram, este. Mas é demasiado real. Talvez por isso...

Textos anteriores deste livro:

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