Outro misto de caso clínico e história-mesmo-história, e outro caso em que o design das páginas adquire relevância para o desfrute do conto, esta Febre de Mordida da Ratazana Samoana Gigante (bibliografia), do "reverendo" M. St.-J. N. S. Moorcock é, basicamente, uma história de tentação e queda.
A grande ironia da história está no facto de Michael Moorcock — assim se chama o autor por trás do pseudónimo — escrever na pele de um reverendo. Esse facto também explica a razão desta história não respeitar os padrões do caso médico estabelecidos na primeira parte do livro, uma vez que o autor não é médico mas sim paciente. Descreve a forma como ele próprio contraiu a doença e enumera os sintomas desta não como texto clínico para orientação de outros médicos, mas como um aviso e um apelo ao cuidado, um sacerdote a exortar as suas ovelhas para evitarem o pecado.
Sim, porque há aqui pecado, e em quantidade. Um dos efeitos da doença são pulsões sexuais incontroláveis, além de outros impulsos antissociais, como o roubo, e também uma série de sintomas físicos geralmente repugnantes. Que seja um reverendo, essa imagem da santidade sacerdotal, a sofrer tudo isto, e apenas por ter sentido curiosidade, acabando mordido e infetado pela ratazana, é o grande achado de Moorcock para uma história que, fora isso, poderia ser apenas curiosa. O protagonista eleva-a a outro nível.
E também há uns elementos adicionais, mais subtis, a elevá-lo. Há genericamente um forte anacronismo em toda a história. A paginação remete para publicações de, no máximo, meados do século XX, ao passo que no texto surgem referências a acontecimentos históricos de finais do século, o que é sublinhado numa "nota do tradutor" (que não é do tradutor), a qual arranja uma explicação de ficção científica para o facto. Por tudo isso, este é um conto bastante bom.
Textos anteriores deste livro:
A grande ironia da história está no facto de Michael Moorcock — assim se chama o autor por trás do pseudónimo — escrever na pele de um reverendo. Esse facto também explica a razão desta história não respeitar os padrões do caso médico estabelecidos na primeira parte do livro, uma vez que o autor não é médico mas sim paciente. Descreve a forma como ele próprio contraiu a doença e enumera os sintomas desta não como texto clínico para orientação de outros médicos, mas como um aviso e um apelo ao cuidado, um sacerdote a exortar as suas ovelhas para evitarem o pecado.
Sim, porque há aqui pecado, e em quantidade. Um dos efeitos da doença são pulsões sexuais incontroláveis, além de outros impulsos antissociais, como o roubo, e também uma série de sintomas físicos geralmente repugnantes. Que seja um reverendo, essa imagem da santidade sacerdotal, a sofrer tudo isto, e apenas por ter sentido curiosidade, acabando mordido e infetado pela ratazana, é o grande achado de Moorcock para uma história que, fora isso, poderia ser apenas curiosa. O protagonista eleva-a a outro nível.
E também há uns elementos adicionais, mais subtis, a elevá-lo. Há genericamente um forte anacronismo em toda a história. A paginação remete para publicações de, no máximo, meados do século XX, ao passo que no texto surgem referências a acontecimentos históricos de finais do século, o que é sublinhado numa "nota do tradutor" (que não é do tradutor), a qual arranja uma explicação de ficção científica para o facto. Por tudo isso, este é um conto bastante bom.
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