terça-feira, 17 de novembro de 2020

Kage Baker: Demência de MacCreech

Já aqui falei de forma pouco abonatória sobre histórias-mesmo-histórias que não conseguem sê-lo de forma integrada no espírito deste livro, apontando-as como exceção à minha tendência de preferir esse tipo de texto aos que funcionam como pastiches do caso médico mais ou menos científico. Pois bem: esta Demência de MacCreech (bibliografia), de Kage Baker, é também uma história-mesmo-história que não se integra perfeitamente no espírito do livro... e no entanto é ótima, em parte porque Baker explica essa dessintonia de uma forma simples mas absolutamente eficaz: não se trata de um texto escrito de propósito para publicação no Almanaque, mas sim da republicação de uma carta endereçada a um jornal. O que é completado pelo grafismo das páginas, o qual remete a folhas datilografadas em máquina de escrever.

Quanto à história propriamente dita, é, como de resto é próprio de uma carta, escrita em forma de depoimento e narra a investigação levada a cabo por um polícia e pela própria Baker (i.e., a Dra. Kage Baker) numa terreola das ilhas exteriores da Escócia, afetada por uma bizarra epidemia de visões fantasmagóricas. Estas, no entanto, não são a vulgar visão ectoplasmática dos contos de fantasmas que todos conhecemos. São todas fantasmas de gente famosa há muito morta, eminências do passado, reconhecidas nas mais variadas atividades, da política à arte, passando por muitas outras. Mais: são fantasmas de mortos famosos... e absolutamente lascivos.

Conto de fantasia, como se vê. Mas também tem elementos de policial, com o mistério a ser investigado por aquele improvável par de detetives, e de ficção científica, pois quando a explicação surge ela é de caráter científico.. Não a revelarei. Digo apenas que tem a ver com uns alcatrazes secos, que as pessoas da ilha, por escassez de tabaco, resolveram tentar fumar, e com uns bolores. E digo também que a história está muito bem contada e é bastante divertida, cheia de pequenas ironias francamente interessantes. Tem tudo no sítio, e é um bom exemplo de como bem subverter regras.

Textos anteriores deste livro:

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