Quando Todorov formulou a sua definição de fantástico (aquelas obras que deixam a pairar no ar a dúvida sobre o que realmente acontece, sobre a existência ou não em jogo de forças sobrenaturais) decerto teria em mente textos como esta novela de Charles Nodier, que começa por narrar acontecimentos muito claramente sobrenaturais, fantasmagóricos, para depois os explicar de forma inteiramente mundana, embora esta explicação deixe o leitor, já antes enganado, com mais dúvidas que certezas.
Tudo se passa em Espanha, durante uma das variadas ocasiões em que, após a revolução francesa, as tropas gaulesas acharam boa ideia invadir a Península Ibérica. Os protagonistas são um grupo de soldados franceses e a Inês de las Sierras (bibliografia) do título, uma estranha espanhola, meio louca, que os conhece quando eles decidem passar a noite num velho e arruinado casarão que tem na região fama de assombrado. E já estão a ver o caminho que a coisa leva, certamente.
Mas não estarão a vê-lo por inteiro, aposto. O grupo de soldados franceses é algo esquemático. Há o homem que conta a história, o mais inteligente da companhia e aquele que a comanda, há uma espécie de poeta, uma «alma ardente» como Nodier lhe chama, e há o seu diametral oposto, uma espécie de bronco que, sendo Nodier o beato que era, só podia ser cético, alguém que nunca acreditava em nada de transnatural. A compor o ramalhete do grupo de homens, há também um ator espanhol, que acompanha os franceses por conveniência de transporte, e o condutor da carruagem de quatro lugares que os leva, obviamente também espanhol.
Tudo se passa em Espanha, durante uma das variadas ocasiões em que, após a revolução francesa, as tropas gaulesas acharam boa ideia invadir a Península Ibérica. Os protagonistas são um grupo de soldados franceses e a Inês de las Sierras (bibliografia) do título, uma estranha espanhola, meio louca, que os conhece quando eles decidem passar a noite num velho e arruinado casarão que tem na região fama de assombrado. E já estão a ver o caminho que a coisa leva, certamente.
Mas não estarão a vê-lo por inteiro, aposto. O grupo de soldados franceses é algo esquemático. Há o homem que conta a história, o mais inteligente da companhia e aquele que a comanda, há uma espécie de poeta, uma «alma ardente» como Nodier lhe chama, e há o seu diametral oposto, uma espécie de bronco que, sendo Nodier o beato que era, só podia ser cético, alguém que nunca acreditava em nada de transnatural. A compor o ramalhete do grupo de homens, há também um ator espanhol, que acompanha os franceses por conveniência de transporte, e o condutor da carruagem de quatro lugares que os leva, obviamente também espanhol.
No casarão, os homens instalam-se para jantar e depois passar a noite, e entretanto vão conversando sobre a possibilidade ou não de existência de assombrações. Ambiente montado, eis que surge a Inês de Las Sierras, que todos tomam como um espírito de outro mundo mas à qual cada um reage à sua maneira. Os espanhóis pouco participam, o comandante observa para depois relatar, o «alma ardente» apaixona-se à primeira vista e o bronco cético torna-se bronco crente num estalar de dedos. Mas no fundo nada realmente acontece; é apenas uma noite estranha na qual uma mulher de aparência ectoplásmica aparece e desaparece, deixando um grupo de soldados confuso e muito pronto para partir assim que chega a manhã.
Depois, temos uma segunda parte da novela, passada alguns anos mais tarde, na qual o comandante do grupo de soldados relata o que aconteceu aos seus homens depois dessa cena, mas narra sobretudo a história da Inês de las Sierras, retratando-a como uma mulher normal, ainda que maltratada pela vida e por isso enlouquecida, uma mulher que de fantasma nada tem. E assim, a sobrenaturalidade do conto depende de se acreditar mais nesta segunda parte ou na primeira.
É uma história bastante boa, esta. Mais sofisticada do que parece à primeira vista, ainda que para o meu gosto peque um pouco pelo caráter esquemático das personagens, que parecem revelar um interesse maior em Nodier pela criação de arquétipos do que propriamente de pessoas de carne e osso, pelo menos nesta novela. Mas está bem concebida e francamente bem escrita. É boa literatura.
Depois, temos uma segunda parte da novela, passada alguns anos mais tarde, na qual o comandante do grupo de soldados relata o que aconteceu aos seus homens depois dessa cena, mas narra sobretudo a história da Inês de las Sierras, retratando-a como uma mulher normal, ainda que maltratada pela vida e por isso enlouquecida, uma mulher que de fantasma nada tem. E assim, a sobrenaturalidade do conto depende de se acreditar mais nesta segunda parte ou na primeira.
É uma história bastante boa, esta. Mais sofisticada do que parece à primeira vista, ainda que para o meu gosto peque um pouco pelo caráter esquemático das personagens, que parecem revelar um interesse maior em Nodier pela criação de arquétipos do que propriamente de pessoas de carne e osso, pelo menos nesta novela. Mas está bem concebida e francamente bem escrita. É boa literatura.
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