Há um certo ar de realismo mágico neste conto, embora na realidade não haja nada no texto que propriamente o justifique. Além, talvez, do insólito de toda a situação que Mia Couto descreve e que é, não pela primeira vez, uma forma muito irónica, muitíssimo oblíqua, de falar do que o apoquenta na forma de ser e de estar do seu Moçambique na década de 1980.
A história começa quando o protagonista ouve um barulho fora de casa e decide ir ver o que se passa. Vai. Descobre na rua um camião militar virado ao contrário, com o motorista, imperturbável, lá dentro. Vai tentar socorrê-lo, mas o outro teima que o seu veículo está normalíssimo, que a rua é que está virada ao contrário e sim, claro, é essa a origem do título de A Rua de Pernas Para o Ar. Quer dizer, teima é forma de expressão porque ninguém teima com ele; o que Couto nos diz, basicamente, é que não se teima com os militares, por maiores que sejam os absurdos que saiam das bocas deles.
Daí que se gere a comoção na rua mas ninguém chame maluco ao militar que vai barafustando contra a irregularidade de deixarem aquela rua assim de pernas para o ar, o que não só lhe causou transtorno evidente a ele, que ainda tem o camião com as rodas para baixo, como vai obrigá-los a todos à delicada operação de virar o camião também de pernas para o ar a fim de que ele possa seguir caminho. O que é feito. E lá fica a rua, como sempre esteve. De pernas para o ar, aparentemente.
Deliciosa ironia coadjuvada com o delicioso trabalho com a língua habitual neste autor, e o resultado só poderia ser um bom conto.
Contos anteriores deste livro:
A história começa quando o protagonista ouve um barulho fora de casa e decide ir ver o que se passa. Vai. Descobre na rua um camião militar virado ao contrário, com o motorista, imperturbável, lá dentro. Vai tentar socorrê-lo, mas o outro teima que o seu veículo está normalíssimo, que a rua é que está virada ao contrário e sim, claro, é essa a origem do título de A Rua de Pernas Para o Ar. Quer dizer, teima é forma de expressão porque ninguém teima com ele; o que Couto nos diz, basicamente, é que não se teima com os militares, por maiores que sejam os absurdos que saiam das bocas deles.
Daí que se gere a comoção na rua mas ninguém chame maluco ao militar que vai barafustando contra a irregularidade de deixarem aquela rua assim de pernas para o ar, o que não só lhe causou transtorno evidente a ele, que ainda tem o camião com as rodas para baixo, como vai obrigá-los a todos à delicada operação de virar o camião também de pernas para o ar a fim de que ele possa seguir caminho. O que é feito. E lá fica a rua, como sempre esteve. De pernas para o ar, aparentemente.
Deliciosa ironia coadjuvada com o delicioso trabalho com a língua habitual neste autor, e o resultado só poderia ser um bom conto.
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