E voltou a acontecer. Mais uma vez me reaparece neste livro um texto que já tinha lido noutros, e neste caso foi há muito pouco tempo, ainda por cima. Sim, que este Josefina, a Cantora, ou O Povo dos Ratos (bibliografia) consta do Bestiário de Franz Kafka, e li-o e comentei-o no início deste ano, aquando da leitura desse livro. Em circunstâncias normais, não teria, portanto, grande coisa a dizer sobre este conto (noveleta?) que não tivesse sido dita há uns meses. Mas por acaso desta vez até tenho.
Não que a minha opinião sobre o conto propriamente dito seja diferente. É aquela que escrevi em fevereiro, com muito pouco a acrescentar. O que há a acrescentar vem da pequena introdução que o antecede — nesta edição, como de resto acontece com frequência em livros deste género, cada história é precedida por uma breve introdução que a enquadra. Aí, diz-se que esta história é uma alegoria da "história e destino do povo judeu", e eu, que na primeira leitura não identifiquei nela nada que me pudesse fazer supor que era disso que se tratava, passei esta segunda leitura à procura desses sinais.
E confesso que continuei sem ver nele grande alegoria ao povo judeu. O conto é obviamente alegórico, mas a alegoria, parece-me, centra-se na relação entre a arte e a população em geral, podendo ser interpretado como uma crítica dos artistas que se acham no direito de subir mais alto que os outros, ou como uma crítica à ignorância das massas, incapaz de reconhecer e premiar o talento onde ele se encontra. Tudo isto me parece universal, muito longe de estar restrito a um povo ou outro. E mesmo se se considerar que Josefina é a representação alegórica do "povo eleito", que segundo alguns judeus são eles próprios, o que é uma interpretação possível mas julgo que bastante forçada, a reação dos outros ratos para com ela tem muito pouco a ver com a história secular de perseguições e repressão que é o melhor resumo possível da história do povo judeu até à criação de Israel. Os outros ratos não são hostis a Josefina; são-lhe quase indiferentes. Encaram as suas excentricidades com bonomia, lidam com ela como se lidaria com um filho birrento mas, em última análise, querido. Não vejo aqui grande paralelo com os judeus, francamente.
Não que a minha opinião sobre o conto propriamente dito seja diferente. É aquela que escrevi em fevereiro, com muito pouco a acrescentar. O que há a acrescentar vem da pequena introdução que o antecede — nesta edição, como de resto acontece com frequência em livros deste género, cada história é precedida por uma breve introdução que a enquadra. Aí, diz-se que esta história é uma alegoria da "história e destino do povo judeu", e eu, que na primeira leitura não identifiquei nela nada que me pudesse fazer supor que era disso que se tratava, passei esta segunda leitura à procura desses sinais.
E confesso que continuei sem ver nele grande alegoria ao povo judeu. O conto é obviamente alegórico, mas a alegoria, parece-me, centra-se na relação entre a arte e a população em geral, podendo ser interpretado como uma crítica dos artistas que se acham no direito de subir mais alto que os outros, ou como uma crítica à ignorância das massas, incapaz de reconhecer e premiar o talento onde ele se encontra. Tudo isto me parece universal, muito longe de estar restrito a um povo ou outro. E mesmo se se considerar que Josefina é a representação alegórica do "povo eleito", que segundo alguns judeus são eles próprios, o que é uma interpretação possível mas julgo que bastante forçada, a reação dos outros ratos para com ela tem muito pouco a ver com a história secular de perseguições e repressão que é o melhor resumo possível da história do povo judeu até à criação de Israel. Os outros ratos não são hostis a Josefina; são-lhe quase indiferentes. Encaram as suas excentricidades com bonomia, lidam com ela como se lidaria com um filho birrento mas, em última análise, querido. Não vejo aqui grande paralelo com os judeus, francamente.
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