domingo, 15 de novembro de 2020

Saki: Sredni Vashtar

Gostaria de saber o que passou pela cabeça de Saki para dar um título tão russo a uma história que de russa, pelo menos à primeira vista, nada tem. Não que Sredni Vashtar (bibliografia) seja russo puro; "vashtar" de russo só tem a sonoridade, embora seja uma palavra que existe de facto numa das línguas não eslavas que se falam na Federação Russa (o mari, falado numa faixa de território a leste dos Montes Urais). Mas "sredni" é realmente uma palavra russa que significa "médio". Pode ser mera casualidade, mas fiquei curioso.

O Sredni do título levou-me a pensar, antes de começar a ler o conto, que o título tinha alguma conotação geográfica e se ambientaria algures no espaço russófono. Completo engano. O Sredni Vashtar de Saki é uma doninha, ou talvez um deus totémico qualquer.

Sim, que o conto é uma história protagonizada por um jovem que inventa uma religião pessoal, circunscrita ao seu ambiente próximo e centrada num barracão onde mora uma galinha e uma doninha. O jovem tem problemas de saúde que levam os médicos a dar-lhe pouco tempo para viver, mas para ele o pior são os cuidados sádicos e repressivos da prima que faz as vezes de progenitora. É esta repressão que o leva a refugiar-se na sua peculiar religião, nas orações a Sredni Vashtar, e em última análise no pedido que acaba por lhe fazer. Um pedido mortífero.

Este é um conto bastante bom, mas algo diferente dos contos de Saki (ou H. H. Munro) que li anteriormente na medida em que pouco humor aqui descortinei. Há ironia, alguma, mas esta é sobretudo situacional, não se refletindo lá muito no enredo propriamente dito, o qual é mais sombrio que outra coisa. Mas ainda não foi desta que encontrei uma história de Saki que não me tenha agradado, e isso é o mais importante.

Textos anteriores deste livro:

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