quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Nathan Ballingrud: A Maleita das Cidades Fantasmagóricas

Mais um caso clínico que não é propriamente um caso clínico (este parece ser, de resto, o principal traço de união das histórias desta parte do livro), este A Maleita das Cidades Fantasmagóricas (bibliografia) poderia ser o que resultaria se A Biblioteca de Babel de Borges e As Cidades Invisíveis de Calvino fizessem amor e tivessem um filho.

Isto na ideia, mas também a concretização dessa ideia, apesar de mostrar, obviamente, o estilo próprio de Nathan Ballingrud, deve muito à abordagem de Borges aos seus textos pseudofactuais, o que de resto é perfeitamente assumido. Este é dos tais contos que se leem como ensaios. Um ensaio, ainda que breve, sobre uma "doença metafísica" bastante peculiar, que leva quem dela padece primeiro a isolar-se nalgum lugar remoto e depois a transformar-se numa cidade abandonada, ou povoada apenas por espectros, na qual, escondida algures, existe uma biblioteca cujos livros contém elementos da personalidade profunda das vítimas.

A ideia é magnífica, e Ballingrud consegue explorá-la de forma a sublinhar o que ela tem de fascinante. Também Borges e Calvino o fazem nas respetivas ficções, o que constitui uma parte do que as eleva tão alto. A de Ballingrud não sobe tanto, no entanto. Há nela um certo caráter derivativo que a impede de ser brilhante. Mas é um conto francamente bom, que narra a descoberta dos primeiros casos da doença (raríssima) e descreve as suas características. Quase como se fosse um caso clínico, sim, mas este texto afasta-se da maioria dos outros na ausência de quaisquer pistas terapêuticas, por mais vagas que pudessem ser.

Textos anteriores deste livro:

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