quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Sérgio Franclim: Assombração

Outro conto que de uma forma geral está bastante bem escrito, este Assombração (bibliografia) tem vários outros pontos de contacto com o conto que o antecede: também tem como fulcro a morte e alguma forma de fantasmagoria. Mas esta história de Sérgio Franclim é muito mais carregada de clichés, ao ponto de ser daquelas histórias que se leem e logo se esquecem por nada terem que as destaque de muitas outras histórias mais ou menos iguais.

Trata-se sobretudo dos clichés da literatura gótica. O protagonista — homem, claro — amantíssimo e platónico ou, como neste caso, não correspondido. O amor como sentimento doentio, violento, destrutivo ou autodestrutivo. O fantasma vingativo. A narração em primeira pessoa e profundamente umbiguista, de um egocentrismo total. Tudo isto se encontra em profusão na literatura gótica original, novecentista, e tudo isto se encontra também neste conto.

Mas o que realmente falha com estrondo nesta história é outra coisa. A ideia, supõe-se, é transmitir-se ao leitor a dor do protagonista e, por extensão, o terror que ele sente ao ver-se assombrado pelo fantasma da sua vítima. O problema é que o protagonista é um incel, com quem nos dias de hoje só outro incel poderá solidarizar-se. A generalidade das pessoas, longe de sentir terror, sentirá indiferença ou, no máximo, uma sensação de "sofre para aí, anormal". Um pouco de schadenfreude, talvez. E isso é fatal para um conto destes. Daí, também, tornar-se tão esquecível tão depressa.

Sim, está bem escrito. Até está razoavelmente bem concebido. Mas isso não chega.

Contos anteriores deste livro:

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