Sem ter ainda concluído a leitura deste livro não posso garantir que o será mesmo, mas como já não faltam muitos contos posso apresentar a forte suspeita de que este Anamorfose (bibliografia), de José António Barreiros, será o mais bem escrito entre todos os textos que nele se reúnem. Provavelmente. Muito provavelmente.
(Este primeiro parágrafo foi escrito há já alguns dias. Entretanto li o resto e confirma-se. É mesmo.)
Trata-se no fundamental de uma experiência. Barreiros parece ter decidido tentar criar um texto anamórfico em si mesmo, isto é, uma representação deformada e confusa de alguma coisa. Para isso recorre ao processo da morte e a uma espécie de metamorfose fantasmagórica post mortem, com muito de surrealismo à mistura, e fá-lo com grande eficácia. Neste sentido, como no que toca ao uso do português, este conto é bastante bom. Mas...
... mas o sucesso da experiência implica que o resultado teria sempre de ser um texto confuso, o que dá azo à questão: este texto é realmente sobre alguma coisa? Isto é: tem algum conteúdo que ultrapasse a mera busca do virtuosismo literário? E parece-me que não. Pode-se argumentar que não era isso o que o autor procurava, e eu concordo. Por isso digo que o conto é bom. Mas o facto é que não gostei dele; sou, como sabe quem me lê regularmente, mais leitor de conteúdo que de forma. E aqui pouco mais vi do que forma.
Contos anteriores deste livro:
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