Alguém devia ter explicado a Pedro Manuel Calvete que uma coisa é um final surpresa que seja coerente com o que vem atrás e outra completamente diferente é tentar criar surpresa com um absoluto disparate caído do céu por não ter unhas. Ou seja: que uma coisa é escrever inteligentemente, usando uma coerência lógica no texto e enchendo-o de detalhes que podem indicar o final e de outros que podem não o indicar, orientando a atenção do leitor para estes últimos, e outra coisa completamente diferente é não só recorrer ao deus ex machina, artifício de que os bons escritores fogem como o diabo da cruz, mas recorrer a ele, ainda por cima, de forma particularmente tontinha.
Infelizmente, Calvete resolveu seguir na segunda direção. A única indicação que deixa para o final é o título, No Topo da Cadeia Alimentar (bibliografia), que pode perfeitamente ser metafórico mas no fim se revela absolutamente literal. Dificilmente resultaria bem, mesmo que o final não fosse tão pateta; mas o final é pateta. E porque o final é pateta ao ponto de estragar o conto não vou estar aqui com cuidados para não estragar a leitura.
É que ainda por cima, até esse momento as coisas até iam bem. Uma história alternativa daquelas de entregar informação ao leitor, mas bem feita, ao contrário de várias das histórias anteriores, transmitindo essa informação através de um miúdo que procura saber informação sobre o regicídio que, na sua linha temporal, falhou, e as consequências que isso teve. Nada de "como sabes, Zé", porque aqui o Zé não sabe. A oralidade está bem usada, a linguagem infantil também, os diálogos são ágeis e a informação transmitida é na maior parte relevante. E depois...
... e depois borra a pintura por completo com a tolice absoluta e irreparável de transformar aquela família em... "tiranossauros sapiens sapiens". Sim. Nem tem piada, nem tem lógica, nem traz nada de jeito à história (muito pelo contrário) nem sequer consegue acertar na porcaria do nome científico!
Ora raios partam, Calvete!
Contos anteriores deste livro:
O PMC acredita que as coisas são como têm de ser, no matter what (A sétima casa, As regras do jogo, Kismet).
ResponderEliminarPortanto, sem o asteróide - mais milhão de anos, menos milhão de anos - vinha tudo a dar exactamente no mesmo.
O PMC acredita que as coisas acontecem como têm de acontecer, no matter what (A sétima casa, As regras do jogo, Kismet).
ResponderEliminarO conto era sobre como, sem o asteróide - mais milhão de anos, menos milhão de anos - tudo seria exactamente igual.