terça-feira, 17 de setembro de 2019

Lídia Silvestre: Esta Casa não Foi Feita de Paredes

E eis mais uma boa surpresa. Esta Casa não Foi Feita de Paredes é um conto fúnebre escrito com grande sensibilidade e um uso da língua bastante bom, que poupa nos arrebiques mas não deixa de ser eminentemente literário. Ou até poético, por vezes. O protagonista é um homem que regressa à velha casa de família logo após perder a mãe, o último progenitor que lhe restava, e aí se confronta com as velhas recordações de um tempo mais luminoso.

Lídia Silvestre usa vários truques para dar maior profundidade e impacto à sua história. Altercar narração descritiva com o discurso direto dos pensamentos do protagonista é um deles, e usar "frases de mãe" como uma espécie de separadores de capítulo é outro, mas no fundamental o que torna este conto realmente bom é a sua verdade. Tudo nele é absolutamente credível.

Não é um conto em que o enredo tenha grande importância, apesar de ele existir e até contribuir para que o impacto do final (que não revelarei) seja maior. É uma daquelas histórias de situação e de personagem, que funcionam por intermédio da tensão psicológica que aquela desperta nesta. E, neste caso, também porque qualquer pessoa que já tenha passado pela perda de uma pessoa amada facilmente se sente identificada com muito do que Lídia Silvestre descreve.

Este conto é bom. Bastante bom, até.

Contos anteriores deste livro:

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