domingo, 22 de setembro de 2019

Ingo Schulze: De "33 Momentos de Felicidade"

Há contos bons, há contos maus, há contos interessantes, há contos chatos, há contos tristes, há contos instigantes. Este é um conto divertido. E também é um conto interessante para todos aqueles que conhecem a Rússia soviética ou a Rússia atual mas não aquela Rússia de transição para o capitalismo que Ingo Schulze aqui nos mostra. E eu sou uma dessas pessoas. Na verdade, não só conheço a Rússia, mas a cidade que Schulze nos mostra: Sampetersburgo.

Retirado de um livro intitulado 33 Momentos de Felicidade mas sem título próprio, este conto é protagonizado por um jornalista alemão como o próprio Schulze, que é encarregado de estabelecer em Sampetersburgo um projeto jornalístico, afiliado de uma publicação alemã, e que Schulze tenha trabalhado como jornalista e vivido alguns meses em Sampetersburgo não é de todo irrelevante. Esta história poderá não ser propriamente autobiográfica, mas decerto tem em si muitos elementos que o autor viveu na pele.

É que o seu principal tema é o choque cultural. O confronto entre o formalismo alemão e a informalidade russa (ao mesmo tempo muito semelhante à portuguesa e bastante característica). Schulze escreve-o com bastante piada, descrevendo a forma como a sede do jornal, instalada num velho palacete na zona nobre da antiga capital russa, vai ganhando um ambiente cada vez mais doméstico, e como ele tenta manter a sanidade no meio de toda aquela confusão informal e da surpresa que não cessa de lhe causar o facto de que, apesar de tudo, os russos até trabalham e o jornal até consegue ir saindo a tempo e horas. No fim, acaba por achar que tem de se tentar impor... e acaba derrotado, naturalmente.

Este não é um grande conto, e provavelmente agradou-me mais do que agradará a muitas outras pessoas porque eu conheço aquela realidade (embora não exatamente aquela, do efervescente período pós-soviético e pré-Putin) e elas não. Mas é bom.

Contos anteriores desta publicação:

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