sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Serras, Patarra e Santos (orgs.): Mensageiros das Estrelas (#leiturtugas)

Não eram altas as expectativas com que parti para a leitura desta antologia. Mensageiros das Estrelas (bibliografia), organizada por Adelaide Meira Serras, Duarte Patarra e Octávio dos Santos, já vinha bastante mal recomendada, especialmente por pessoas cuja opinião me habituei a respeitar. Mas, como contém histórias de alguns dos mais renomados escritores portugueses de ficção científica e fantástico, esperava gostar pelo menos dessas, pelo que nunca achei que fosse assim tão má. Mas é.

Esperava gostar da história do Luís Filipe Silva, um dos melhores autores portugueses de ficção científica, com várias histórias inteligentes, estimulantes e bem escritas no currículo, mas o que ele apresenta aqui é uma aventurazinha inconsequente e muito pulp, bastante longe do seu melhor. Nunca tendo sido grande fã do António de Macedo, estou no entanto habituado a encontrar nas ficções dele correção técnica, não o recurso a um dos truques estilísticos mais totalmente desacreditados das ficções fantásticas. Dos autores de algum renome, só o João Seixas cumpriu, mesmo que também dele já tenha lido coisas mais inovadoras que a que aqui publica.

Quanto aos outros, de alguns não esperava nada, ou por nunca os ter lido, ou por não ter lido o suficiente para ter alguma espécie de expetativa, e de outros não esperava mais que a mediocridade habitual e mesmo assim conseguiram surpreender-me pela negativa, com textos simplesmente impublicáveis.

Para piorar as coisas, uma porção significativa dos contos mais bem conseguidos utiliza abordagens e temas que pouco estimulam o meu gosto literário, situando-se naquele grupo de textos nos quais reconheço qualidade mas que não me agrada particularmente ler. Estão neste grupo os dois melhores contos do conjunto, Das Visitações e Anamorfose, e também Aventura Borgiana: Uma Sinopse Avançada, que está um pouco abaixo destes dois mas acaba por ser também significativamente melhor que a média da antologia. Outros contos acima da média são, sem senões, O Confessor e O Príncipe Mais que Perfeito e, um pouco mais abaixo, mesmo a rasar a média, Tour de Main, In Falsetto, O Preço de uma Coroa e, apesar de tudo, A Conjura e Assombração.

Assim sendo, esta antologia vale a pena? Costumo dizer que uma antologia vale a pena desde que tenha pelo menos um texto muito bom ou vários bons e aqui não existe nenhum texto muito bom, embora existam dois muito maus, o que desde logo aponta para uma antologia de má qualidade (na verdade, é a pior antologia de FC&F portuguesa que eu li desde a pior das antologias da Simetria — A Viagem — embora esteja agora a ler outra que segundo tudo indica vai ser ainda pior). Mas há bons. Tudo fica a depender, portanto, da definição de "vários". E a melhor resposta que consigo dar é que para mim não valeu a pena, precisamente porque os melhores contos não jogam bem com o meu gosto literário, mas teria valido se jogassem, o que significa que é possível que valha para outros leitores com gostos diferentes dos meus.

Eis o que achei de cada um dos contos:
Este livro foi comprado.

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