segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Luísa Azevedo: Absurda Sedação

Aqui temos um corpo estranho nesta antologia, o primeiro mas, segundo já me foi dado ver, não o único: um texto publicado "extra-concurso", como eles dizem, isto é, um texto que não foi autoproposto (e pago? Não tenho a certeza de como esta publicação foi financiada) pelos autores mas sim fruto de um convite de quem organiza a compilação a uma "colaboradora". Não sei o que fizeram aqui as pessoas identificadas como colaboradoras, mas imagino que terão ajudado a selecionar o material publicado. Talvez.

E é também um corpo estranho por outro motivo. Luísa Azevedo, aparentemente, detesta fantasia em particular e provavelmente também o maravilhoso e o horror em geral. E como detesta essas coisas faz publicar num livro com essa temática (ainda que algo alargada) um soneto no qual trata o género logo a partir do título como Absurda Sedação (bibliografia), atacando-o sem dó nem piedade. Absurda publicação?

Provavelmente. Sim, é verdade que este poema — um soneto — é muito melhor que quase todos os restantes, seja em qualidade literária genérica, seja nas características formais que caracterizam uma obra poética. Luísa Azevedo sabe o que está a fazer, ao contrário de vários dos autores com quem compartilha o livro e que ela terá possivelmente ajudado a escolher. Mas se isso a valoriza, a repugnância que demonstra pelo género em que está a trabalhar, acompanhada por uma dose considerável de ignorância pois parece não saber que o que descreve é uma caricatura que não corresponde à realidade, faz precisamente o contrário. Era escusado, francamente.

Textos anteriores deste livro:

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