segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Clotilde Graves: Almas Gémeas

E eis que pela mão segura de Clotilde Graves nos chega mais um exemplo de conto de fantasmas carregado de humor. Almas Gémeas (bibliografia) é um daqueles contos-depoimento, no caso o depoimento de uma mulher que conta aos leitores interessados como adquirira os conhecimentos que tem sobre almas do outro mundo, fantasmas e esse tipo de questões etéreas. E não, não podem desde já imaginar como: a coisa está bem esgalhada e é bastante original.

Devo fazer um alerta antes de prosseguir: este é dos tais contos de que é praticamente impossível falar sem se fazer revelações de enredo, e este constitui boa parte do que sustenta o interesse do leitor ao longo da leitura. Por outras palavras, daqui para diante vai haver spoilers. Estão avisados.

Aviso feito, vamos lá. Pois bem: a forma como a narradora começou a perceber alguma coisa sobre fantasmas foi ter deparado uma bela noite, ao acordar de repente, com o fantasma de uma mulher sentado na sua cama de casada, onde dormia com o marido pouco depois do casamento. Segue-se uma conversa divertida, em que a mulher fantasma explica que está ali porque o marido da verdadeira, que conhecera numa sessão espírita porque ele a invocara para falar de Shakespeare (eu avisei que era divertido), está a sonhar com ela e só se pode ir embora quando o sonho terminar. Resultado? Ciumeira, claro.

É essa ciumeira, primeiro da mulher de carne e osso pela mulher ectoplásmica e depois do marido da mulher de carne e osso pelo homem ectoplásmico quando a mulher decide que o que é demais enjoa e também pode arranjar um companheiro fantasmagórico só seu, que faz mover o enredo. Tudo bastante bem apanhado e bastante engraçado, incluindo o final, que tem uma certa qualidade delicodoce que estraga um pouco o que ficou para trás, mas não deixa de ser o desenlace mais lógico de toda a situação.

Mais um conto bastante interessante, este.

Contos anteriores deste livro:

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