Sempre fui de opinião que a forma com que se encerra uma coletânea ou antologia é importante, pois embora alguns leitores vão lendo conto a conto, saltitando para trás e para diante ao sabor dos apetites, a maioria não o faz e acaba por ler sequencialmente, começando pelo primeiro e acabando com o último. Assim, se o primeiro conto é como que o átrio de um edifício artístico, que pode atrair os visitantes ou repeli-los, o último é a porta de saída, e a última oportunidade de causar um bom impacto. Assim, julgo importante que tanto o primeiro conto como o último sejam obras fortes. Talvez não as mais fortes de todas, mas fortes o suficiente para causar ou deixar boa impressão ao leitor.
Carina Portugal, aparentemente, não é dessa opinião. É que este texto com que termina o seu livro, Biscoitos da Vida Eterna, está muito longe de ser um dos pontos altos desta compilação.
Reparem que falo em texto, não em conto. É que não estamos perante um conto no sentido tradicional da palavra. Trata-se de uma receita de bruxa, para fazer os biscoitos da vida eterna do título, completa com instruções para a obtenção dos ingredientes mais problemáticos. Meia dúzia de aventureiros ou raspa de escama de dragão, entre outras coisas do género, não são propriamente artigos que se possa ir comprar ao supermercado mais próximo.
A coisa até diverte um pouco, e está razoavelmente bem escrita, mas falta-lhe bastante para poder ter alguma esperança de ser um ponto alto neste livro. É um textozinho divertido e inconsequente, e só pretende mesmo ser isso. Pouco teria a apontar-lhe se o encontrasse no miolo do livro, mas encontrá-lo no fim não me pareceu nada boa ideia.
Textos anteriores deste livro:
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