quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Lido: The Last Akialoa

A Fantasy & Science Fiction tem o costume de fazer anteceder as histórias que publica por pequenas introduções escritas, presumivelmente, por um ou outro dos editores. Costumam ter alguma utilidade para enquadrar os textos que introduzem, embora por vezes sejam um pouco redundantes. E de outras vezes, mais raras, são algo discutíveis.

Esta, por exemplo, é algo discutível. Começa por aconselhar os puristas a passar à frente, e explica que o faz porque esta história de Alan Dean Foster não é nem ficção científica nem fantasia, uma vez que se podia perfeitamente passar hoje.

E eu, provavelmente por não ser purista, discordo. The Last Akialoa é uma história passada numa região de chuva intensa e persistente numa das ilhas havaianas, um pântano situado na caldeira de um vulcão extinto. As personagens são ornitólogos (e um guia) que penetram nessa região à procura de uma ave que se julga poder estar extinta, o akialoa. Problema: expedições anteriores resultaram invariavelmente no desaparecimento e presumível morte de parte da expedição, porque as condições são de tal forma inóspitas que nem as comunicações modernas lá funcionam nem a tecnologia de busca e salvamento lá consegue chegar com um mínimo de eficácia.

E já sem contar com uma cena, perto do desfecho, que pode perfeitamente servir para enquadrar esta história tanto na fantasia (se for essa a perspetiva do leitor) quanto no fantástico todoroviano (pois existe uma clara ambiguidade quanto à realidade ou irrealidade do que é descrito), uma coisa é certa: existe um elemento claro de tensão e morte iminente que pode perfeitamente ser encarado como horror psicológico, e existe uma referência que me pareceu igualmente clara a um conto de ficção científica de Bradbury, A Longa Chuva. Pelo que a inclusão da história numa revista como esta faz todo o sentido. Nada a ver com a crónica de viagem da outra senhora num dos números da Paradoxo (e esta devem contar-se pelos dedos duma mão os que entenderão).

Mas isso, no fundo é secundário. O que é realmente importante é saber se o conto é bom. E a meu ver até é, mas não muito. Consegue criar a atmosfera de tensão pretendida, é contado com a mão segura de um autor carregadinho de experiência, mas falta-lhe um certo... como explicar? Falta-lhe conseguir que o leitor (ou este leitor, pelo menos) mergulhe realmente na história, se interesse realmente pelo destino das personagens e/ou pela descoberta que estas pretendem fazer. E falta-lhe também ser menos previsível, pois o desfecho vai tendo demasiados prenúncios ao longo da narrativa.

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