terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Lido: Pintado a Sangue

Deixando para trás os contos ultracurtos, Carina Portugal regressa a histórias mais elaboradas com este Pintado a Sangue. E regressa bastante bem.

E regressa levando-nos à Rússia, aparentemente oitocentista, onde uma jovem toma posse de uma casa onde encontra múltiplos avisos de assombração. Mas ela, prática, cética e desembaraçada, não lhes liga. Aqui chegado, o leitor pode ter desculpa se imaginar que já sabe onde a história vai dar: a uma história de fantasmas clássica, na qual o ceticismo da rapariga é destruído por um paroxismo de terror sobrenatural. Mas não é esse o caminho que a autora segue, e é muito por isso que este é um bom conto.

Não que as fragilidades na escrita de Carina Portugal, já por várias vezes mencionadas, tenham desaparecido. Elas estão lá, ainda que atenuadas, incluindo alguns detalhes em que só quem saiba como as coisas funcionam chega a reparar. Por exemplo, a protagonista recebe o nome de Selena Yelizarov, o que me informa que a Carina não sabe que os apelidos russos são alterados consoante o género. Um homem poder-se-ia chamar Yelizarov, mas uma mulher teria de ser Yelizarova.

Mas a narrativa é segura, o desenvolvimento da trama mantém com eficácia o mistério que gera a curiosidade e a vontade de continuar a ler, as várias curvas que o enredo vai fazendo trazem quase sempre alguma surpresa mas mesmo assim fazem todo o sentido no contexto da história, e o final é bastante bom. Este é, com falhas e tudo, um dos melhores contos deste livro.

Textos anteriores deste livro:

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