sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Lido: A Noiva e o Vampiro

O romance fix-up não é uma tradição muito comum na língua portuguesa, julgo que sobretudo pela fraca tradição de publicação de contos entre nós, sistematicamente remetida para publicações marginais e pouco acarinhada pelos leitores em geral e por quem opina sobre leituras em particular. De tal forma que nem existe, que eu saiba, um termo em português que o designe. Mas como devia existir, deixem-me tentar cunhá-lo: romance-colagem.

E o que é o romance-colagem? É uma obra construída a partir de contos e novelas, geralmente com publicação anterior, embora por vezes os autores acrescentem material novo, nunca publicado, e façam outras alterações ao material já publicado para melhor o adequar ao formato de romance. De notar que romance-colagem não é o mesmo que romance em mosaicos (isto é, romances fragmentários, compostos por várias histórias razoavelmente independentes), ainda que muitos romances-colagem também sejam romances em mosaicos (o Terrarium, por exemplo, é as duas coisas): não só há romances em mosaicos em que nenhuma das suas partes teve existência independente prévia, como também existem romances-colagem que integram de tal forma as histórias anteriores num todo coerente que elas perdem completamente, ou quase, a individualidade.

Serve esta demorada introdução para vos dizer que esta capa que veem aqui à direita pertence a um romance-colagem de Gerson Lodi-Ribeiro. E que o texto de que venho aqui falar um pouco, A Noiva e o Vampiro, usado aqui como prólogo, não parece ter tido vida independente anterior.

Apesar disso, ressoa a qualquer coisa. É que eu ao longo dos anos fui lendo várias das histórias que serviram de blocos de construção deste romance-colagem e outras histórias que aparentemente não fizeram parte da colagem mas pertencem ao mesmo universo ficcional. Até publiquei uma ou outra. E tenho uma vaga lembrança de algo semelhante aos acontecimentos aqui descritos me ter passado pelos olhos. Mas é vaga: não recordo onde. Nem quando.

Seja como for, esta historinha sobre uma noiva e um vampiro tem muito de prólogo. Quero eu dizer com isto que inclui bastante despejo de informação sobre quem é a noiva (personagem que serve para situar o leitor quanto ao universo ficcional em que estas histórias se desenvolvem) e sobretudo quem é, o que faz e que limitações tem para conseguir sobreviver o protagonista deste livro: o vampiro. Por esse motivo não creio que funcione como história independente. Já como prólogo de um romance, seja ele colagem ou não, funciona... desde que a sequência da história reduza bastante a proporção de infodump.

Quanto ao enredo... bem... digamos apenas que quem saiba alguma coisa sobre o que fazem os vampiros quando mulheres jovens e apetitosas lhes caem nas garras já terá uma boa ideia do enredo. Aqui as coisas são um pouco diferentes, porque este vampiro não é propriamente decalcado dos vampiros que estamos habituados a encontrar nas histórias de terror (é um vampiro de ficção científica, basicamente) e existem elementos raciais e políticos a afetar o desenvolvimento da trama, decorrentes do universo de história alternativa que o autor cria. Mas no fundamental, no âmago da coisa, sim, é isso.

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