Há uma série de obras de vários géneros fantásticos, mas sobretudo de ficção científica, que lidam com bolsas de tempo cíclico. Sabem como é? Aquelas situações em que as personagens são forçadas a repetir uma e outra vez o mesmo dia, semana, mês, ano, etc., geralmente tendo disso consciência, por vezes inconscientes do facto à parte uma incómoda sensação de déjà vu. É um tema comum o suficiente para ter chegado à televisão e ao cinema e tem uma relação por vezes íntima com as viagens no tempo.
Luiz Bras serve-se da ideia neste Dia da Marmota, cujo título é referência a uma festa norte-americana em que se usa marmotas como uma espécie de oráculos sobre a duração do inverno. Não que essa festa tenha grande influência na narrativa, para além de esta usar uma marmota como uma espécie de senhora do tempo. O conto pouco mais é do que uma sucessão de ciclos de cinco minutos que se repetem milhares de vezes sem que ninguém disso se dê conta.
É muito difícil fazer-se isto literariamente de forma que resulte. Conheço vários exemplos que não resultaram. Mas Bras consegue fazer com que a sua historinha resulte, em parte por encaixar a ideia em apenas duas páginas de texto, e por lhe somar um muito Borgesiano elemento de recursividade. Não creio que este seja um dos seus melhores contos, mas é bom.
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