segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Uma pequena história cautelar para autores aspirantes... e não só

... ou como não fazer as coisas.

Há coisa de um ano, dei por acaso pela edição deste livro cuja capa apresento aqui ao lado. Não foi, que eu tivesse dado por isso, divulgada em lado nenhum e não esteve, que eu tivesse notado, à venda em nenhum sítio. Mas é, aparentemente, um livro de ficção científica de um autor de que nunca tinha ouvido falar. E isso, claro, desperta-me a curiosidade.

Há dias resolvi comprá-lo. Como o único lugar onde o livro parece estar à venda (à parte a Amazon, e eu não estou disposto a ir importar da Amazon um livro português) é o site da editora, foi lá que me dirigi. Afinal de contas, estamos em 2018. O comércio eletrónico, em especial de livros, é uma realidade testada e afinada por duas décadas de experiência, certo?

Bem...

Ao entrar tudo parece estar certo. O design é atraente, os livros estão bem categorizados e acessíveis. Os dados sobre os livros são escassos, mas isso é praga que ataca muito mais do que esta editora específica, infelizmente. Às vezes quase parece que demasiadas editoras portuguesas acham que fornecer dados completos sobre os livros que pretendem vender viola alguma espécie de segredo de estado. Que esta também sofra disso não é nem surpreendente nem invulgar.

De modo que eu lá fui encomendá-lo, todo lampeiro. Má ideia.

Em vez de se clicar num botão "encomendar" e o livro ficar adicionado a um carrinho de compras, como é padrão do e-commerce, temos um formulário. Pede-se nome, endereço, email, essas coisas necessárias, e por aí tudo bem. Depois pede-se para indicar o livro. Um livro. Quem quiser encomendar mais que um, não pode... ou por outra, pode encomendar vários exemplares do mesmo livro, mas não pode, por exemplo, encomendar A Fonte da Juventude do Rúben Pais e As Nuvens de Hamburgo do Pedro Cipriano.

Pior: depois de ser obrigado a só escolher um livro, o pobre candidato a cliente tem a opção de comprar também um e só um ebook. Informação sobre o formato em que o ebook virá? Não existe. Pode ser PDF, pode ser um formato decente (EPUB, por exemplo), pode ser um formato bizarro qualquer que ninguém consegue ler, pode ser qualquer coisa. E não é possível comprar ebooks, ou pelo menos um ebook. Quem prefira ler livros digitais está com azar, que se o campo dos ebooks é facultativo, o dos livros em papel é obrigatório.

Mas pronto. Se é assim que querem, assim terão. E eu lá fiz a encomenda: este livro cuja capa está aqui em cima, em papel, e o do Cipriano em ebook, já que este último sei onde poderia comprar em papel se a venda do ebook desse barraca. Sim, que já estava a ver o filme mal parado.

Mas não tanto como acabou por ficar. É que depois da encomenda feita recebi o email de confirmação, típico destas coisas. Tudo bem, portanto? Não propriamente, não. É que o que veio no email foi, em resumo, isto:

Livro - Encomendar Ficção
Versão - 1
Quantidade -
Envio - Envio Ebook - imediato
Preço - 14

Como não encomendei nenhum livro intitulado "Encomendar Ficção", assinalei uma quantidade de 1 exemplar e o preço do ebook (de envio imediato) não é 14 €, assim que vi isto fugi imediatamente para bem longe. Não confirmei o email, evidentemente, e muito menos procedi ao pagamento.

E foi assim que o Rúben Pais não vendeu um livro.

Moral da história: de pouco servem as boas intenções (a carta de intenções da editora é um exemplo a seguir por muitas outras; não estamos perante uma vanity press) quando não vêm acompanhadas por saber-se fazer as coisas. E o facto é que quem vai tentar comprar livros online sai da experiência com péssima impressão, que não se fica pela experiência de compra, antes transborda para outras áreas: afinal, se a venda é assim quem garante que a paginação está bem feita ou os livros não vêm cheios de gralhas (não estão disponíveis excertos, claro) ou não se desfazem assim que forem abertos?

E outra moral da história: seria sensato que os autores testassem as editoras antes de lhes entregar as suas obras. Comprem-lhes qualquer coisa, pelos vários meios (se é que são vários os meios) que elas põem os livros à venda. Verifiquem a qualidade das edições, vejam se e como os livros são divulgados. É que caso contrário pode acontecer-vos o que aconteceu ao Rúben: podem não vender livros que poderiam ter vendido.

E por falar nisso: alguém sabe de algum lugar físico onde eu poderia comprar este A Fonte da Juventude? É que agora já só mesmo tendo o livro nas mãos, sabem?

3 comentários:

  1. Se aparecer aqui um comentário meu incompleto, foi porque carreguei no enter sem querer. Entusiasmei-me e não sei se publiquei ou não. Se não, também não o vou escrever de novo. Fica para a próxima.

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    1. Não apareceu, não. Só cá veio parar este.

      (eu tenho moderação em posts com mais de uma semana... ou um mês? Agora não me lembro... para evitar o spam)

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  2. OK, então perdi-o mesmo. Por esta altura do campeonato uma pessoa já devia saber que nunca se escreve um comentário extenso directamente na caixa de comentários, já por causa dos acidentes. Mas às vezes a gente não sabe que vai escrever tanto e esquece. :)

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