domingo, 28 de janeiro de 2018

Lido: Dama Polaca Voando em Limusine Preta

Não tenho muito a dizer sobre este conto de Lídia Jorge. Apesar de se intitular Dama Polaca Voando em Limusine Preta, a dama não é polaca, propriamente, e a limusine, que é realmente preta, não voa em qualquer sentido que não seja o figurado. Trata-se de um conto realista, umbiguista e resmoneado, sobre uma inesperada viagem em limusine entre o hotel em que a narradora estava hospedada e um aeroporto ainda razoavelmente distante. O país em que a história se desenrola não chega a ser nomeado mas cheira a Estados Unidos por todo o lado, e o texto — tão bem escrito quanto seria de esperar de alguém como Lídia Jorge — é de certa forma um fluxo de consciência da narradora, enquanto vai reagindo, com total passividade, primeiro ao facto de estar a viajar numa velha limusine, e depois ao facto de o motorista ter saído da sua reserva profissional e a ter contactado porque, segundo vem a saber, ela lhe faz lembrar intensamente a falecida mulher, essa sim polaca. E aparentemente judia. Essa familiaridade aparente leva-o a fazer-lhe algumas confidências e a história resume-se a isso. Trata-se, no fundo, de um esboço de personagem para o qual a viagem não passa de pretexto. A limusine funciona como casulo que isola quase por completo as personagens do mundo exterior, e praticamente tudo se passa apenas entre a memória e a saudade (e o amor, também) de um homem e as dúvidas e inseguranças de uma mulher.

Não é um mau conto; não me chocaria minimamente, até, que houvesse quem o considerasse bastante bom. Mas é um conto que não me conseguiu despertar interesse. Pelo contrário, despertou-me aborrecimento. São gostos.

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